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sábado, 26 de julho de 2014

O FUTEBOL EXPLICADO AOS MEUS FILHOS

*****PORTAL DO SERVIDOR PÚBLICO DO BRASIL*****

  1. http://medeirosjotabe.blogspot.com.br/?expref=next-blog





       Se a Alemanha enfiou 7 no Brasil, então poderia ter ensacado uns 9 ou 10 na Colômbia? E uns 12 no Chile? E uns 18 em Camarões?

        Até uma lógica de criança parece fazer sentido hoje. Sim, em tese poderia. Mas certamente não faria, e poderia até perder, especialmente para a Colômbia. Por quê? Porque a Colômbia nunca chegou ao estágio de potência do futebol, nunca subiu tão alto e joga com a consciência de suas limitações. O Brasil já foi potência hegemônica, e até a Espanha o foi, durante o curto espaço de uns dois anos. Agora, quem é potência é a Alemanha, um time que, por ser mais cartesiano que os outros antigos super-poderes, desconhece o sentido da palavra misericórdia.  Confesso que admirei a sua voracidade, por um instante.

         O Brasil de ontem à tarde não tinha estudado suficientemente seu adversário, achou que poderia enfrentá-lo de igual para igual. Hoje em dia, a única força capaz de nivelar os times é a modéstia – o limitado Ituano já tinha mostrado isso na primeira manhã deste ano. A própria Costa Rica foi um símbolo dessa disposição. Já a nossa seleção teve o topete de escalar um “substituto” para Neymar, mantendo o mesmo esquema tático, um quase suicídio frente a um adversário muito superior. Acho que foi o Kroos que declarou: “Vimos que eles estavam desnorteados e nos aproveitamos disso”. Muito justo.

          Não ia escrever nada sobre o jogo, ia apenas colocar pó de café em cima da ferida, como minha mãe fazia, para cicatrizar rápido. E não escrevo para justificar ou entender a derrota. Ela é suficientemente estupefaciente, acachapante, o que quiserem. Escrevo porque vi a agonia das crianças frente a uma situação que seus pais não podiam explicar ontem. O menino de óculos no Mineirão, chorando e espremendo o copo de coca-cola enquanto chovia gols em cima de seu time no gramado me empurrou para esse front. Os emoticons chorosos da minha filha no meu telefone.

       Escrevo também por que vejo a coragem de meus amigos nas redes sociais, enfrentando, como que numa força brancaleônica de resistência, a euforia do pensamento fascista que emergiu com a derrota, e que pretende nos impor certo determinismo derrotista. Essa legião do “nascemos para perder” nos fustiga desde tempos imemoriais. Eles aparecem quando o Massa bate o carro na última volta, quando o vôlei perde depois de 10 anos ganhando, torcem pela queda da Daiane dos Santos e até quando o Senna se estatelou numa curva eles vieram com o “eu não disse?”.

         Meus amigos sabem que não pode haver rendição frente a essa turba. Ela “cola” na sua conclusão uma ética de sobrepujamento, entre outras. Questão de princípio. Sempre me emocionei com esforços de resistência, seja no mundo real, como no estilingue dos palestinos, até o mundo da ficção, em filmes como Furyio, de Nagisa Oshima, até CasablancaStar Wars, o que for.

          Ontem nós abrimos uma Seleta e pedimos um sashimi para tentar exorcizar um pouco da dor, mas o Juva confessou que não estava conseguindo mastigar. Duro demais. Nos reunimos para tentar entender a derrota, esperando que fosse uma espécie de cometa Haley que só passa a cada século. Isso também é torcer.

         Posso estar exagerando (talvez o baque de ontem tenha colaborado para esse extremismo), mas a bravura do Nuno, do Dodô, de uns poucos, combatendo essa noite no Facebook com humor e doce convicção os eufóricos da derrota, me lembrou um trecho do livro Vinho & Guerra. Ali, se narra o diálogo que o então prefeito de Paris, Taittinger, manteve com o comandante nazista durante a ocupação da França. O triunfante Coronel Von Choltitz tinha ordens pessoais de Hitler de dinamitar toda a cidade. Chegou a colocar dinamite na Madeleine. Taittinger, sabendo do plano, levou o comandante até a sacada do seu hotel na frente do Jardin des Tuilleries e perguntou: “Você quer passar para a História como o homem que destruiu a Cidade Luz ou como o homem que a poupou?”. Vocês sabem o que aconteceu, Paris está lá intacta.

          Uma das perguntas dos mais novos, notei hoje observando uns garotos na feira, é a seguinte: “Nosso futebol é essa merda toda? É mesmo irrecuperável?” No momento, é. Não há subterfúgio ou anestésico para amenizar essa dor e essa realidade. Sou santista, sei do que estou falando. Em 2005, perdemos para um time infinitamente superior do Corinthians por 7 a 0, fora o baile. Aquela derrota ainda dói na terceira vértebra lombar. Depois dela, a impressão era que o Santos estava fora do mundo do futebol, devastado, reduzido ao status de um Íbis. Mas não existe, felizmente, o aniquilamento total no futebol. Em 2011, fomos de novo campeões da Libertadores, revelamos Neymar e Ganso, renascemos. Ainda este ano, enfiamos 5 a 1 no mesmo Corinthians (dava até para devolver mais uns dois), já campeão mundial, e olha que tínhamos um time nitidamente inferior – em poderio econômico e personagens.


          Não quero dizer com isso que devemos alimentar a ilusão de devolver esse placar aos alemães. Seria insanidade. Os placares muito dilatados não são regra do futebol, eles ocorrem em situações de grande alienação: o desconhecimento do poderio adversário, a desconfiança nos próprios recursos, a fé superior em elementos extra-campo. Os meninos vão esquecer logo, é próprio da idade. Já estarão rindo amanhã e saberão que a alternância no topo não é uma tragédia em si. O importante é Paris continuar intacta.

  2. um conto da era da botinada justificada




          Na clínica São Carlos, em Fortaleza, houve um momento na longuíssima noite passada em que Neymar ficou num estágio entre acordado e dormindo. A dor nas costas era tão grande que ele não conseguiu adormecer completamente. Nesse espaço R.E.M. intermediário, to my knees failed, Neymar sonhou (ou imaginou) que estava num grande tribunal em cuja plateia sentavam-se todos seus antigos marcadores.

         Estavam lá Piris, do São Paulo. Camilo Zuñiga, da Colômbia. Tata González, do Uruguai. Chicão, do Corinthians. Jefferson, da Catanduvense. Dedé, do Cruzeiro. Tinha gente do Sevilha, das seleções espanhola, uruguaia e argentina, do Botafogo de Ribeirão Preto, do Coritiba, da Matonense, do Internacional e do Grêmio de Porto Alegre. Gente que levou chapéu, que levou no meio das canetas, que teve a impressão que a bola passou pelo meio do seu estômago, que não viu a bola ou que chutou o próprio companheiro na vã tentativa de pará-lo. O juiz era Sandro Meira Ricci, que Neymar insinuara ser dedos-leves em uma declaração no Twitter. 

        O torcedor-secador-símbolo estava no júri, e já tinha escrito duas frases em sua caderneta: “Não vinha jogando bem há dois jogos...” e “Futebol é jogo de homem, todos batem, todos levam!”.

         Juiz: “O sr. está aqui sendo julgado pela acusação de ser piscineiro, cai-cai, ator de quinta categoria. O que o sr. tem a dizer em sua defesa?”. Neymar tentou dizer alguma coisa, mas a dor nas costas foi tão lancinante que o pulmão travou e o ar que liberou não conseguiu fazer vibrar nenhuma corda vocal. Muricy, vendo sua agonia, pediu a palavra.

         “Eu nunca tinha visto, em toda minha carreira, alguém fazer as coisas que ele fez”. O juiz inquiriu o treinador. “O sr. então diz que é falsa a acusação de cai-cai?”. Muricy só sorriu e respondeu: “Não, o que eu disse foi que sempre achei que ele era de borracha. Ninguém que apanhou tanto podia ficar sem fraturas por tanto tempo”.

         O torcedor-secador-símbolo, que já torceu pelo México, pelo Chile e achou a Colômbia o maior time do mundo pela eternidade de uma rodada, berrou um palavrão. Um outro sãopaulino gritou: “Ar, ar, ar, Lucas é melhor que Neymar!”. O juiz pediu ordem no recinto. Um argentino gozador com uma coluna vertebral de gesso foi retirado pelos ordeiros PMs da Vila Madalena. O juiz pediu o depoimento de Zuñiga. Este foi breve e falou olhando fixamente para Muricy. “Não há Justiça que não sonegue, não há costela que não envergue”.

         O advogado era o treinador Dorival Júnior. Ele estava mudo. Perdera o emprego por causa do réu, em priscas eras. Abriu e fechou a apostila com a defesa que presumivelmente tinha preparado, mas não disse nada. Passou a palavra para a acusação.  O promotor era o ilustríssimo Apresentador de Mesa-Redonda de TV de Oliveira. Ele leu seu depoimento: “Em 4 anos jogando pela seleção, o réu fez 54 gols, 76 se consideradas as categorias de base. O Brasil estava em 19º lugar no ranking da FIFA quando ele estreou, e voltou ao topo em apenas três anos. Acho isso um mau exemplo: se continuarmos tendo bons resultados, podemos perpetuar um péssimo modelo para o mundo. Um futebol que não é padrão Fifa, que não persegue a meta da infalibilidade, que não passa férias na riviera francesa, mas que ganha mesmo assim”.

        Sandro Meira Ricci então leu a sentença. Tinha poucas linhas e pareceu um pastiche de Mário Faustino:

         “Cruel foi teu triunfo, torpe Neymar. Celebraram-te tanto, te adoravam. Do fundo atroz à superfície, altar de teus deuses solares. Considero-te culpado de alimentar o sonho de destampada alegria e de improvisação infinita do futebol. Estarás assim privado para toda a eternidade de sonhar o teu momento. Que entrem as botinadas, que saiam as chuteiras aladas. Teu castigo será o cerco sem medidas dos bajuladores e editorialistas piegas. O coro dos falsos compungidos”.


         Neymar suspirou por um momento e a dor deu um tempo, o tribunal se foi. Sentiu um doce alívio. Ao seu lado, a mão da linda Bruna massageava na sua mão o espaço entre os dedos nos quais a gente separa aqueles meses que têm 31 dias e aqueles meses que têm apenas 30.




  3.      Prorrogação é como um empréstimo consignado no banco: resolve teu perrengue naquele momento, mas depois vêm os efeitos colaterais – câimbras, distensões musculares, fadiga extrema, tudo com juros. Testa os fortes, pune os relapsos, tritura os terços, reaviva as ladainhas, cansa o secador, mina os nervos, quebra um Schweinsteiger e trava as pernas de um Feghouli.

        Prorrogação pode ser como um novo casamento aos 50 anos, no qual aquele interminável tempo que duraria uma vida inteira agora está resumido a dois tempos de 15 minutos – ou você marca agora, ou é empurrado precocemente para a aposentadoria das concessionárias de carro da Avenida Bandeirantes. Não pode fazer como o Lichtsteiner, da Suíça, que trombou com a bola aos 14 minutos do segundo tempo da prorrogação, caiu no meio de um argentino e aquele camisa 10 que não tinha feito nada de determinante até então carregou a caprichosa e a entregou como um garçom do Genésio para Di María esfoliar o corte do canivete suíço.

         Sob uma nuvem de spray de Cataflam, a prorrogação parece concentrar a esperança dos times limitados, que aspiram a uma série mágica de pênaltis que lhes possibilite, quem sabe, suplantar um favorito. Mas, em geral, é uma falsa impressão. Tanto quanto pode redimir, a prorrogação pode significar apenas dar mais corda para o enforcado. Pode ser um Esperando Godot eterno. O time que nasce depois do apito do tempo regulamentar esgotado, no caso dessa Copa do Mundo, tem sido mais paixão do que redenção. E o pênalti mágico, como nos ensinou a Costa Rica, não existe: existe o rigor, a mira, o chute calibrado.

         Uma Argélia insinuante, com 30 minutos a mais, poderia realmente derrotar a Alemanha de aplicação marcial e eficiência IS0 9001 de Schürrle, Özil e Muller? E se o jogo continuasse por mais um dia inteiro, ainda assim aquela voluntariosa dedicação de Green, Dempsey e Jones poderia sublimar a novidade de Hazard e daquele príncipe Harry da Bélgica, o redneck Kevin De Bruyne? Convenhamos, Howard não tinha como fazer milagre a tarde toda, entrando noite adentro.

        Mas, sem escolha, o ano do fut acaba consagrando a prorrogação como território da extrema unção esportiva, o ápice de uma nova dramaticidade. Cinco dos oito jogos da Copa 2014 arrastaram-se para os agônicos dois tempos de 15 minutos (com os três ou quatro minutos extras arbitrados pelo homem de preto). E, se o leitor não lembra, tudo isso começou até antes da Copa, no dia 24 de maio, com a final em Lisboa da Liga dos Campeões da Europa, entre Real Madrid e Atlético de Madrid.

         Naquele dia que parou Lisboa, o aparentemente imbatível Real Madrid ia perdendo até os 47 minutos do segundo tempo regulamentar, quando Sergio Ramos fez um gol de cabeça e empatou a partida. Por alguns segundos, o Atlético de Madrid sagrava-se campeão, mas o destino estava matreiro naquele dia. Após o empate, a situação mudou drasticamente: o Real Madrid voou em campo e goleou o Atlético por 4 a zero. A prorrogação esperava o verdadeiro dono da chave do tempo.


         Até essa Copa, a prorrogação (ou tiempo extra, como prefere Di María) era como os extras de um DVD: quase nunca a gente extraía nada de bom daquelas sobras que eram vendidas como  dádivas do cineasta para o espectador. Mas agora há essa nova dramaturgia em ação, uma espécie de roteiro do desespero que se vem encenando com notáveis coadjuvantes e inesperado impacto – a cabeçada suíça na trave, nos últimos minutos do segundo tempo da prorrogação contra a Argentina ainda está vibrando no Itaquerão, como um silvo de advertência. A imagem de Müller catando cavaco naquela cobrança de falta, como que desmascarando a fama de infalível dos alemães, passa para a História. Um dia, essa ciranda do tempo extra vai escolher seus novos senhores, como reza a profecia de Nossa Senhora dos Catimbeiros de Outrora. 








  4. Craque é coisa tão rara que sua detecção muitas vezes é defeituosa. Ou seja: enxergamos craques onde queremos ver, onde gostaríamos que eles estivessem.

    Campbell, da Costa Rica, virou craque muito rapidamente, e também deixou de ser em pouquíssimo tempo. Nem tem mais gente falando nele.

    Adoro ver a papagaiada das melhores crônicas sobre craques que proliferam nessa época de Copa. Há algumas muito boas. E algumas muito ruins, especialmente em programas de TV de segunda categoria fazendo o elogio do craque. Adoro essas, principalmente. Vi uma outro dia na Band que quase me mata de rir - até a locução, de uma normalista pré-coerente, era deliciosa.

    Me pongo aqui a analisar os caras que considero craques na Copa que vi até agora, de uma perspectiva rock’n’roll. Para fazer minha contribuição ao bestiário da Copa.

    Muller é o craque-Joey Ramone. Tem um tanto de Rivaldo na estrutura física, meio desequilibrada nas pernas e na corcunda displicente que nem é muito regra entre os alemães. Falso lento, tem facilidade em postar-se tanto no centro quanto na esquerda e na direita e tem cabeceio preciso. Tem vezes que me lembra o Alan Kardec, pelo jeito de disfarçar a presença em campo.

    Messi é o minicraque fulminante, o craque Van Morrison. Pelo tamanho e forma de correr, lembra um filhote de pato, aquele bichinho com a bunda pesada demais para o corpo carregar. Mas sua finalização é como se fosse um ferrão de marimbondo. Tem uma precisão espantosa. Também tem uma pequena dose de arrogância, o que faz com que alguns duvidem de sua grandeza.

    Cristiano Ronaldo é o craque-dândi, o craque Thin White Duke. Seu time é muito ruim, então é pena; mas notem que mesmo em cada jogada malograda dele não há vulgaridade. É elegante até no jeito de bater de chapa. Exagerou um pouco na malhação, e seu tórax parece o do Johnny Bravo, não bate com o resto do seu corpo.

    Suárez é o craque-The Clash, o falso primitivo, o homem-banda que vive de contrariar expectativas. Onde me querem punk, sou refinado. Onde me querem refinado, sou vampiro. Parece se guardar por boa parte do jogo, para só então aproveitar a chance única, mínima. Fez dois gols que não foram pinturas contra a Inglaterra, mas que 99% dos centroavantes perderiam.

    Rooney é o craque-pedreiro, o craque The Pogues. Não há graça em sua arte, apenas valentia, perseverança, desdentamento. Entretanto, sabe fulminar o adversário, tem precisão em todos os fundamentos. Mas lhe falta alegria, lhe falta um pouco de savoir-vivre – mais Guinness, menos concentração. A eliminação não o torna menor.

    Pirlo vai ser minha exceção: não é roqueiro, é jazzista. É o craque-Brad Mehldau. Pode eventualmente tocar Nirvana, mas é bandleader de jazz, e sua forma circular de desenhar os trajetos pelo gramado não tem equivalente no esporte atualmente. É como se concentrasse Pitta e Airton Lira num só indivíduo.

    Benzema é o craque lobo solitário, é o mais roots da Copa, um tuaregue do Tinariwen. Seu jogo é igualmente básico, três acordes, um toque de bola que é mais blues do que rock progressivo, mais um árabe cantando por trocados no meio da rua no Marché aux Puces de Clignancourt.

    Por ser santista, deveria me considerar impedido de analisar Neymar, mas ele nem é mais santista, é do Barcelona. Me sinto liberado.
    Neymar sonha o novo, sua sintaxe é daquele tipo que ainda não foi descrita pelos linguistas. Neymar é um Hendrix do fut. Não há forma de prever seu trajeto, interceptar seu bailado. Não há mandinga, não tem despacho de encruzilhada que o detenha. É talhado para as grandes plateias: quando o jogo começa, há apenas um marcador nele, mas quando termina já há uns três ou quatro.
    Neymar é o craque Radiohead, so fucking special/don't belong here, embora ele preferisse mesmo ser o craque Tiaguinho.




  5. Segundo a Wikipedia (sorry, não tenho fontes muito diversificadas nessa área), o cartão vermelho só foi introduzido nas Copas em 1974. “Até então, as advertências e expulsões eram feitas de forma verbal. O árbitro avisava os atletas e anotava as advertências em sua caderneta. Porém, muitas vezes essas advertências não eram entendidas. Assim, para que os torcedores e jogadores pudessem compreender o que se passava em campo, o cartão amarelo e vermelho foi introduzido. Já o cartão amarelo apareceu na Copa 4 anos antes, em 1970”, diz o verbete.

    Imagine o cara desenhando o episódio Suárez na caderneta: uma arcada dentária em cima de uma pizza calabresa e uma anotação à frente: 3 X (três vezes). Um jeito gráfico de mostrar que o uruguaio era reincidente. A cabeçada do Zidane no Materazzi seria anotada assim: “Irmã no meio, cabeça no plexo solar do italiano”.

    O primeiro jogador a receber o primeiro cartão vermelho foi o chileno Carlos Caszely (já tinha recebido um cartão amarelo no jogo anterior). O cartão foi dado pelo juiz turco Dogan Babacan (um sobrenome desses é sopa no mel para a piada, não?).

    O episódio Suárez acirrou os ânimos do debate (cheguei a ver argumento do tipo: “Se a Fifa é desonesta, que moral ela tem para punir o Suárez?”). É aquele velho negócio: se fulano é picareta, então tudo é permitido, estou liberado para ser desonesto (ou covarde) também. Para começar, o futebol não é a Fifa, o futebol somos nozes.

    Mas como isso tudo também despertou uma suposição, paranoica, de que haja um mirabolante plano para beneficiar o Brasil, busquei alguns dados para o debate. Descobri que o Brasil, na verdade, nunca foi muito poupado. Foi o País que mais levou cartões vermelhos na História das Copas: 11. Em segundo lugar está a... Argentina, com 10 vermelhinhos. O Uruguai está em terceiro, com 9, e com 8 estão Camarões e Itália.
    Essa Copa também pode terminar como uma das menos violentas da História - isso se ninguém abrir a caixa de ferramentas em cima do adversário daqui por diante. Até agora, foram 9 cartões vermelhos: Marchisio (Itália), Valencia (Equador), Pepe (Portugal), Defour (Bélgica), Alex Song (Camarões), Katsouranis (Grécia) Rebic (Croácia), Max Pereira (Uruguai) e Palácios (Honduras). Digamos que a expulsão de Suárez foi um cartão vermelho do tamanho de uma tela do Rodchenko.

    A mais violenta das copas recentes foi a de 2006, com 28 cartões vermelhos. Em 2010 e 2002, foram distribuídos 17 vermelhinhos em cada uma. Curioso notar que a expulsão de Felipe Melo, em 2010, lhe valeu a execração pública no Brasil – talvez por ser perna-de-pau, talvez pela falta de sutileza. O brasileiro não foi complacente com seu destempero e covardia.

    O camaronês Rigobert Song foi o primeiro futebolista a receber 2 cartões vermelhos - um em 1994, e o outro em 1998. Zinedine Zidane fez o mesmo, em 1998 e 2006. Com a expulsão de Alex Song (primo de Rigobert Song) em 2014, a família Song passa a ser a família com mais expulsões em copas: 3.

    Maradona ficou indignado com a expulsão de Suárez. Excluído por doping de uma Copa, ele sabe o que é o papel de réu. Sempre também se gabou de ter feito um gol de mão contra a Inglaterra. “Lo marqué un poco con la cabeza y un poco con la mano de Dios”. Craque eterno, mas convenhamos que não é o melhor conselheiro para assuntos de natureza ética.
    Escrevi sobre o assunto Suárez no Facebook. Foi curto meu arrazoado:

     Tanto Lugano quanto Mujica sustentaram a tese da normalidade da agressão, decorrência da hostilidade natural de um jogo. Gosto de ambos, mas discordo. A bola não estava em jogo, e a ferocidade insólita de Suárez não me pareceu mera desforra. Fora o aspecto da covardia, do ataque sorrateiro. Já briguei no futebol algumas vezes, e os brios se revelam no tête-à-tête. Muitas vezes, o pequeno se insurge contra o gigante por conta do clamor da Justiça imediata - é no ato que se busca a reparação pela via da ignorância. Suárez mastigou seu ressentimento. Não sei quanto ao tamanho da punição, mas seria um passaporte para a barbárie se ela não viesse.





  6. Uma das maiores indelicadezas dessa Copa do Mundo (ao menos até aqui) foi cometida contra um senhor de 87 anos, Alcides Ghiggia. Carrasco da seleção brasileira no Mundial de 1950, o ex-jogador uruguaio veio ao Brasil e, quando chegou, na semana passada, a Fifa não tinha providenciado para ele nem credencial nem ingresso. Era convidado de honra. Com problemas físicos, ainda o deixaram esperando em pé por mais de meia hora.

    Ghiggia é um patrimônio de todas as Copas do Mundo. Ghiggia é o nosso fantasma e a nossa ligação com o futuro. E o maior legado de uma Copa do Mundo é a própria Copa, essa é a lição histórica. Não é o edifício, não é o lucro, não é o oportunismo político: é o humano, o balé cultural. A maior mobilidade que se pode legar é a que acontece dentro da cabeça. A elevação das expectativas.

    De Beckenbauer a Higuita, tudo vira História, tudo vira cultura, tudo serve para aproximar o Planeta de si mesmo.Por causa da Copa, hoje o Brasil todo descobriu que há um novo Rei da Espanha, e debate para que serve um Rei, o que um Rei está fazendo no meio de um desemprego de 25%, que tipo de benefício ele pode trazer para a abalroada seleção espanhola (e para seu País). Na ressaca da derrota, os japoneses deram a maior lição de civilidade ao mundo, recolhendo seu próprio lixo após o jogo.

    Tudo é símbolo, tudo é signo. A língua de fora de Van Piercing (ooops, Van Persie) impõe-se como um exorcismo anti-Mick Jagger, a língua que erra. O maravilhoso primeiro gol da Bósnia numa Copa tinha que ser no meio das canetas de um argentino. O gol mais bonito tinha que ser de um (improvável) australiano, Cahill. Os norte-americanos, tarados por recordes, marcaram o gol mais rápido. A maior zebra tinha de ser a Costa Rica.

    Pirlo foi um Claudio Abbado regendo um Il viaggio a Reims de Rossini para cima da impecável Inglaterra, mantendo a sua máscara de indiferença mesmo com o calor de 40 graus. Alexis Sanchez foi um tornado vindo desde o deserto do Atacama para fuzilar as esperanças espanholas.

    Dessa Copa, tudo já é legado: os alemães e seus sofás no meio do estádio, o ônibus cheio de argelinos fascinados olhando uma única moça sem véu passando na calçada, o selfie de Podolski e Angela Merkel. Mesmo os chilenos invadindo o Maracanã como um enxame de abelhas vermelhas é um legado, um enxame a ser estudado e documentado. Como o são o chute no vazio de Boye que fez do rosto de Dempsey uma máscara de borracha;  os milagres do desempregado Ochoa, do México; o sorriso mestiço de Benzema cantando versos sufis na atônita defesa de Honduras.

    O futebol faz a mediação final de todas as coisas. O futebol é soberano. Não foi a empáfia que vitimou a Espanha. Não foram as sobrancelhas aparadas do Cristiano Ronaldo que abalroaram Portugal. Foi o futebol. Não foi por excesso de virilidade que o Pepe foi expulso, foi por ignorar o futebol. Foi por tomar o futebol como pretexto, como muleta, que a vaia se voltou contra os vaiadores.

    Ontem, olhando o material das agências, vi a notícia que talvez seja a mais desprezada de todas: o atacante Fellaini, da Bélgica, promete tosar o curly hair, o cabelão black power, se chegarem à final. É tão provável quanto um palpite de Mick Jagger, mas não se pode deixar de reconhecer que ele tem topete.

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